“Alguém ajuda a ela a tirar os sapatos” - mulher
“Fia, por que você não
aceitou a ajuda do garoto? Fui eu quem mandou ele te ajudar” - homem
Esqueceram-se de nos dizer, a nós
mulheres, qual era mesmo o lugar que nos era reservado na história. Citaram que
havia um lugar, mas esqueceram de reservar. Enquanto isso, seguimos carregando
muitos pesos, entre eles os masculinos, por entendermos nosso papel enquanto
coadjuvantes.
Por isso, ocupamos uma comunidade na ZN onde um sarau e seu
espaço cultural são geridos por uma mulher que irrompeu o quadro de necessidades
culturais locais e fez algo. Em geral, mulheres fazem “algo”. Só esquecem-se de
nos dizer que podemos...
E seguimos carregando pesos.
O La Plataformance resolveu apoiar a iniciativa de Noêmia,
reafirmar o lugar do espaço cultural e lá fomos. Fomos dois performando in the flash, e muitos outros de nós em
vídeo-registro, videoperformance, audiovisual gritante...
Eu segui com um carrinho, conseguido por D. Alda (mãe de
Pedro – mulher), que continha o homem que topou ser carregado (e se necessário
cair, levantar e me bater) pelas ruas de uma comunidade, tendo por vigilância
diversos outros homens em motos e caminhando (me seguindo?).
Por vezes, eles tentavam ajudar-me, por vezes (muitas vezes)
vigiar-me. Por vezes, queriam só saber que mulher era aquela que carregava e
não queria ajuda. Por vezes, eles queriam dizer-me que não foram avisados e
queriam que eu tivesse pedido permissão para estar ali.
Esqueceram-se de me dizer o meu lugar naquela comunidade.
Mulher alguma me ajudou... Mulher alguma falou comigo. Ouvi
durante o trajeto apenas uma voz passiva que dizia a frase acima: “Alguém ajuda
ela a tirar os sapatos”... Alguém... Não ela... Ela não, pois ela já tinha seus
próprios pesos para carregar e não queria compartilhar o meu.
Nessa experiência mais que músculos me doeram. O que mais me
doeu foi a certeza da solidão de mulheres que não apoiam outras mulhres. A
solidão de saber que continuamos instrumentos coadjuvantes em qualquer
sociedade ou comunidade, apenas por não terem reservado nosso lugar na
história.
Enquanto isso o Espaço Cultural Jd. Damasceno resiste. Resiste
em uma praça, à revelia da prefeitura, resiste em arte, resiste mostrando nas
ruas que ele está lá e que a mulher que o administra continuará lá também,
fomentando algo de arte.
O Jd. Damasceno é resistência!
Jack Soul Revenge Girl (também conhecida pelo nome civil de
Jaqueline Vasconcellos, aquela que se vinga)
Fotos do Rodrigo Munhoz:
Fotos do Rodrigo Munhoz:
Assista o vídeo: